Encontrar Significado na Tragédia

 

Por J. Michael Feazell

 

Enquanto lutamos para enfrentar o horror da catástrofe dos ataques terroristas contra vítimas inocentes no solo Americano, nós pomos a nossa fé e esperança no nosso Pai celestial que nos deu o seu Filho para que a nossa dor e sofrimento profundos, perante tal tragédia, seja substituída, um dia, pela alegria e triunfo da vida eterna.

 

 

Esperança na adversidade e sofrimento.

 

Todo o conteúdo das Escrituras nos diz que podemos confiar em Deus e nos cuidados que ele tem para com os que põem a sua fé nele. Contudo, a  Bíblia não hesita em relação ao facto de que é preciso fé, porque o caminho actual da vida humana, mesmo para os crentes, como nós sabemos tão bem, está, regularmente, cheio de problemas, adversidade e dor.

 

Quantas vezes, ao nos lembrarmos de um período difícil das nossas vidas, começamos por descobrir que essa tão difícil jornada que tivemos que percorrer, levou-nos a um lugar de paz e maturidade – uma sensação de tanta intimidade com Deus e tanta confiança nele, que de outro modo, nunca teríamos conhecido. E, tal como sabemos, algumas jornadas de fé, pertencem a um tipo, no qual essa descoberta só se realiza no outro lado da vida.

 

A experiência tem nos ensinado que a vida, por vezes, torna-se num oceano violento e tempestuoso de dor, sofrimento e depressão, arrastando-nos para as suas profundezas escuras e implacáveis. Na confusão turbulenta, agarramo-nos com os braços doridos e cansados a uma tábua de fé em pedaços, uma fé que sussurra aos nossos ouvidos afogados, que Deus, seja com for está ao nosso lado, que seja com for ele sabe e que seja como for não nos deixará. É tudo o que nos faz aguentar, esta pequena chama de confiança num Deus invisível que promete salvamento, segurança e fé.

 

Quando finalmente, termina a tempestade e um sol brilhante aquece o mar calmo, começamos por ver, talvez pela primeira vez, a forma como a mão suave de um Pai carinhoso nos segurava o tempo todo. Contudo não é fácil.  Ninguém disse que seria assim. Isto é, ninguém que saiba do que está a falar.

 

Confiar no amor de Deus

 

Deus ama-nos, assim nos dizem as Escrituras.  Mas quando o médico nos informa que o nosso filho ou filha de cinco anos tem cancro, quando descobrimos que o nosso cônjuge tem andado a molestar as nossas crianças de forma abusiva, quando acordamos num hospital e somos informados que perdemos as nossas pernas num acidente de viação ou que a nossa mãe foi morta num tornado ou que alguém que amamos é queimado e esmagado até à morte na tentativa de salvar outras pessoas depois de um horrível ataque terrorista, toda esta conversa acerca do “amor de Deus” pode parecer esmagadoramente oca, senão mesmo de uma franqueza ofensiva.

 

Quem é este Deus que permite que traumas e desastres devorem os corações e as esperanças das pessoas que o amam e confiam nele? Quem é este Deus invisível e silencioso que diz nunca deixar-nos nem abandonar-nos? Onde está quando mais precisamos dele?

 

“Que pecados terríveis é que tu cometeste?” temos ouvido alguns Cristãos perguntar a quem está a sofrer, “que tens sido tão castigado?”.  Alguns Cristãos não imaginam que Deus pudesse permitir que coisas más acontecessem aos “verdadeiros” Cristãos. No entanto – não somos todos nós pecadores, mesmos os “verdadeiros” Cristãos?

 

Então, porque razão somos, alguns de nós, punidos com calamidades enquanto outros, culpados dos mesmos pecados ou piores parecem ficar impunes? Graças a Deus que as pessoas que pensam que toda a tragédia humana é o “julgamento de Deus nos pecadores” não são Deus e não falam por Deus.

 

Ainda assim, levanta-se uma questão complicada. Nós temos a certeza que somos pecadores, e temos, também, a certeza que não merecemos nada que venha de Deus. Por vezes, isto faz-nos questionar se a razão pela qual Deus não nos salvou é porque, na realidade, ele não se importa mesmo connosco. Afinal, porque motivo deveria ele importar-se connosco? Nós sabemos que estamos muito aquém de sermos seres divinos. Nós sabemos e Deus também o sabe. Então, porque motivo deveria Deus importar-se com os nossos problemas?

 

Paulo explica, este assunto, na sua carta aos Romanos: “Pois, quando ainda éramos fracos, Cristo morreu a seu tempo pelos ímpios. Porque dificilmente haverá quem morra por um justo; pois poderá ser que pelo homem bondoso alguém ouse morrer. Mas Deus dá prova do seu amor para connosco, em que, quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós” (Romanos 5:6-8).

Deus ama-nos pecadores – tanto é assim, que Cristo morreu por nós para nos libertar, sob fiança, dos nossos pecados. E, também por nós, ressuscitou dos mortos – para nos instalar, com ele, numa nova vida.

Por isso, o argumento do pecado não é válido. Na realidade, mostra o contrário, porque se Deus passou por todo este trabalho para nos salvar do pecado e morte espiritual, porque motivo intervém ele tão pouco para nos salvar das tragédias e traumas que constantemente nos dilacera aqui e agora?

Sofrer na esperança

Como Cristãos, acreditamos que Deus nos salva. Mas acreditamos que ele nos salva do que realmente precisamos de ser salvos e não do que pensamos que precisamos ser salvos. Ainda assim, quando algum dos nossos filhos está a morrer, nós certamente, queremos que ele nos liberte dessa situação e não de algo invisível e espiritual. E se essa libertação não vem, como é que, supostamente, poderemos continuar a confiar no poder e no amor de Deus?

 

A Bíblia diz-nos que as nossas vidas – ao nossas famílias, a nossa saúde, os nossos destinos – são, certamente, importantes para Deus. Diz-nos que Deus está preocupado com as nossas circunstâncias actuais, todavia a sua preocupação ultrapassa as circunstâncias presentes - ele está muito mais preocupado connosco – para sempre. Nós temos a certeza de que ele nos fez, e que ele nos fez de acordo com a sua vontade, e que ele nos ama porque lhe pertencemos.

No que diz respeito a assuntos tão importantes como a vida e a morte, os evangelhos asseguram-nos que Jesus Cristo é a Ressurreição e a Vida; ele cuida da restauração das nossas vidas.  Os evangelhos também, nos asseguram que Deus nos está a moldar à imagem de Cristo (Colossenses 3:10)  - numa pessoa forte, sã e equilibrada, numa pessoa que é tudo aquilo para o qual nós fomos feitos, e que assim deveríamos ser e que desejamos poder ser, mas que, segundo parece, nesta vida, nunca o seremos. Talvez seja invisível essa transformação, mas está a ser feita enquanto Deus trabalha directamente no nosso íntimo – de dentro para fora (Colossenses 3:1-4). E o sofrimento tem um papel importante nesse processo.

Os evangelhos asseguram-nos a salvação que nos espera no céu, como herança irrefutável (1 Pedro 1:3-4), e assegura-nos que Deus nos protege através da fé, não necessariamente das adversidades e traumas  desta vida, mas do que possa tentar tirar-nos a salvação (versículo 5).

É na esperança – e certeza – da salvação eterna, que podemos retirar algum gozo nesta vida, apesar dos males que, entretanto, nos possam atingir (vers.6). Pedro chama à nossa fé, que é a nossa confiança na exactidão de Deus em manter a sua palavra para connosco, uma fé que é forjada no “fogo” das adversidades difíceis, “mais preciosa que o ouro” (vers.7). Pedro admite que nos é pedido acreditar num Salvador que não podemos ver (vers.8), todavia, assegura-nos que o nosso amor e confiança pelo nosso invisível Salvador, dá-nos uma alegria indiscritível. Ele assegura-nos, também, que chegará em glória, honra e salvação (vers.7-9).

Deus sofredor

Quem é este Deus que deixa o seu povo sofrer, apesar de este lhe gritar desesperadamente, pela sua libertação? Ele é Jesus Cristo, o Cordeiro do Senhor – o mesmo das mãos furadas pelos pregos e dos ferimentos da lança. Reconhecê-lo-ás pelo sangue das lacerações e golpes profundos e pela coroa de espinhos. Ele é aquele que foi ridicularizado e negado. Aquele que foi cuspido, açoitado e assassinado.

Ele é, também, aquele que está mesmo ao nosso lado em todas as nossas dores e angústias. Ele sofre, juntamente connosco, por todos os nossos pesares e aflições. Ele não nos abandona - nem mesmo nos nossos piores pesadelos (Deuteronômio 31; Hebreus13:5).  Embora a sua presença seja invisível.

Em vez de nos safar das nossas catástrofes actuais, ele acompanha-nos quando passamos por elas (Mateus 28:20). Ele chora connosco; ele sofre connosco (Hebreus 2:18).

A nossa fé, enquanto Cristãos, está na ressurreição. É esta esperança – uma esperança depositada na confiança – que faz com que a vida valha a pena ser vivida e que nos dá o que é preciso para nos aguentarmos, quando tudo em nós quer desistir.

É por isso que, mesmo no decorrer do nosso sofrimento, podemos confiar no nosso Salvador invisível e pedir-lhe para nos ajudar a apoiar e encorajar uns aos outros (Efésios:31-5:1). As histórias que ouvimos, inspiradas de heroísmo e coragem, no período posterior à nossa recente tragédia nacional são um testamento da nossa força interior, fraternidade e humanidade que está enraizada na humanidade do nosso Senhor ressuscitado, no qual nós todos vivemos e movimentamos o nosso ser.

Porque Cristo sofreu por nós, as nossas tragédias não estão isentas de significado. São parte da forragem da matéria prima, da nossa totalidade espiritual (Hebreus 2:14-15). Nós emergimos delas mais fortes, mais sábios e mais afectuosos. Ao mantermos a nossa confiança no nosso Deus que promete ser a nossa salvação, estamos forjados, no seu amor, numa unidade com Cristo e uns com os outros.

“na qual exultais, ainda que agora por um pouco de tempo, sendo necessário, estejais contristados por várias provações, para que a prova da vossa fé, mais preciosa do que o ouro que perece, embora provado pelo fogo, redunde para louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo; a quem, sem o terdes visto, amais; no qual, sem agora o verdes, mas crendo, exultais com gozo inefável e cheio de glória, alcançando o fim da vossa fé, a salvação das vossas almas” (1 Pedro1:6-9).

Com todos os Americanos e aliados Americanos em todo o mundo, nós descansamos na misericórdia e na graça de Deus pedindo pela cura e conforto das vítimas e famílias de tragédias e pela coragem, sabedoria, resolução e unidade por parte do nosso Presidente, dos nossos líderes nacionais e dos nossos concidadãos para encararem os desafios que se nos deparam.

 

Com acção de graças, louvamos Deus pelo sacrifício e coragem inspiradores de todos aqueles que deram tanto, até ao ponto de sacrificarem as suas próprias vidas, para salvar e tratar os sobreviventes dos ataques, pela solidariedade dos Nova Iorquinos e pela nação como um todo neste tempo de crise.

 

 

 

 

Copyright © Worldwide Church of God, 2001

 

Igreja de Deus Mundial

 

Traduzido por: Conceição Galego